sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Transgermânico III (the last but not the least)

rise and shine!

está a vibrar! o meu bolso! olho para o relógio de parede do Bombay Bar. saio apressado para a rua. abrigo-me sob a ombreira de uma porta qualquer. entre palavras desembrulho os dois pacotes que viajavam na minha algibeira desde Den Helder. pela primeira vez passo o meu aniversário sozinho num pais estranho. sinto-me verdadeiramente do mundo.

segunda cena de pancadaria provocada pelo álcool. para mim basta! ainda saio pela janela sem ter feito qualquer casting para este filme.

abandono a festa. pé na estrada que o metro já abriu.

percorro as ruas procurando, reconhecendo as montras, encontrar o caminho de regresso à estação do metro onde desembarquei horas antes. Uuuppsss! era suposto a porta abrir. boa! são 03h51m e estou sozinho numa rua escura, à porta do metro - zavřeno! a ideia de caminhar tranquilo por estas ruelas como se para o trabalho me dirigisse está a tornar-se emocionalmente díficil. good evening! Is the station closed? o velhote que do outro lado do passeio varria a rua responde-me num dialecto completamente indecifrável. não vai ser fácil mas vamos conseguir comunicar. esforça-te! entre gestos e palavras desconhecidas para ambos chego à conclusão que na próxima tranversal existe uma paragem do eléctrico que me pode levar até à estação dos comboios. agradeço a colaboração. o velhote despede-se com um sorriso fraterno e um toque paternal no braço.

deve ser aqui! porra! que mania de sair na estação anterior. mais estradas abandonadas entre chaminés industriais que pintam em tons cinzentos os meus maiores pesadelos. caminha à frente do medo que ele acabará por te abandonar.

não acredito!!! o meu comboio não parte desta estação mas sim da estação central de Praha. mas porquê?!?!?! corro para o metro, agora já a funcionar e encontro-me com um daqueles bandos de turistas asiáticos que nos deixam sempre mais relaxados. se houver confusão eles são mais do que as mães e a coisa há-de ficar por ali.

entro no metro seguido de uma figura que me desperta a atenção pela passividade assertiva do olhar. encosto-me à porta. afinal são só três paragens. a figura interessante aproxima-se de mim. num gesto discreto mostra-me um crachá. ok?! à paisana já percebi que estás. polícia? SEF? passport não disseste. ok! só podes ser o revisor. confiante mostro-lhe o bilhete. olha para mim. aceita o papel que lhe dou e... tick-tick! é o pica! ufa! estes tipos não perdoam. 05h10m. primeiro metro do dia. pica à paisa. vida dura esta!

toalety! a pagantes como costume por estas bandas. lavo a cara e as mãos. reparo que se pode tomar banho nesta estação. aluga-se toalha (ou não) e por poucas coroas podemos lavar e aquecer o corpo. bem bom para quem anda de mochilão às costas e está só de passagem. fica para a próxima.

lugar reservado. tranquilo. vou aproveitar para dormir enquanto o sol não nasce. o olhar mafioso aterrorizou-me. no meu camarote. no lugar por mim reservado estão dois arianos espadaúdos. trancam a porta com violência tal que instintivamente levanto as mãos em sinal de paz. recuou sem perder o olhar. entro num camarote vazio algumas portas ao lado. porta trancada. ar quente no máximo - a única opção. ligeira abertura da janela. ainda sufoco com o calor. corpo relaxado q.b. sobre o banco. fecho os olhos e adormeço.

truz! truz! truz! ainda não me levantei já a revisora me entra pelo camarote dentro. bilhete verificado. avisa-me que o comboio não segue até Cheb. é preciso uma ligação de autocarro que demorará cerca de meia hora. maravilha!!! querias aventura? então ai tens! meia hora no meu meio de transporte favorito com as estradas nas melhores condições possíveis... geladas! se sobreviver juro que volto aqui. juro!!!

o comboio parou. está na hora de sair. jamais esquecerei esta imagem. todos em coluna, ao longo dos carris, por um entre dois comboios imóveis. o meu horizonte são os calcanhares da idosa que sigo. o fumo da respiração dissipa-se no ar gelado. estou a caminhar para o meu fim. já vejo a luz ao fundo!!! estou no mais profundo checo! lindo!

Cheb. finalmente. de uma carruagem estilo marroquino passo para um comboio avant garde! um funicular que transpõe a fronteira e me entrega aos alemães. confesso que o sentimento de concretização me invade. venci todos os medos e estou a ter uma das melhores experiências interiores da minha existência.

como é que é possível o ICE chegar atrasado. acabo de perder o comboio de ligação. onde são as informações? está resolvido. apanho um suburbano de ligação. que melhor maneira de me embrenhar nos costumes locais. viajar entre aqueles que regressam a casa da escola e do trabalho. maravilhoso!

pelos cartazes publicitários apercebo-me que entro agora de novo nos Países Baixos. combino o encontro em Eindhoven. desce as escadas. abraçar alguém tão querido depois de todo este tempo é mágico. welkom amigo! obrigado!

chegamos a Tilburg! como é que sabes qual é a tua bicicleta? no meio da multidão de pedais lá está ela. a primeira bicicleta genuinamente holandesa em que viajarei. sento-me no monta cargas e sigo guiado até ao supermercado. é preciso comprar os géneros e o vinho para o nosso jantar.

banho. as melhores bolachas holandesas. jantar. vinho. chá. uma representação autobiográfica simplesmente maravilhosa. butoh. conversa em dia. pé no pedal. -2ºC! o windchill torna-me as extremidades insensíveis ao toque. o maior edíficio habitacional da Holanda! repito o itenerário do comboio pela enésima vez. combinado o próximo jantar. um abraço prolongado. o olhar brilhante. sigo para norte que o caminho ainda se faz.

Amsterdam! this train goes to the airport? yes! desculpa?! és portuguesa?! sou! estás a ouvir Bossa AC não é? o altifalante do telemóvel denunciou-te. três dedos de conversa. destino: Lisboa ou.... Den Helder!

último troço... Alkmaar-Den Helder. estou quase de volta.

(your eyes only... muito obrigado amigo! sabes bem o que significou para mim estar contigo neste dia! take care!)

1 comentário:

Alice In Wonderland disse...

Tens essa capacidade de me transportar para outro mundo. Às vezes penso que não te conheci, que só te imaginei.
:)