terça-feira, 30 de março de 2010

Marrocos I


Já demorei mais tempo em aeroportos europeus.

Passo pelo detector de metais, rolo pelas escadas, dou três passos e entro na gare de Casablanca. Que fluidez!
Partilho a carruagem com alguns turistas que entre cartas e conversa preenchem o tempo. De Casablanca a Marraqueche são quatro horas de comboio incluindo a mudança em Casa Voyageurs.

Recordo os comboios urbanos de Lisboa e os Regionais do Douro. A semelhança é estranha. Viajo com a minha asa o que me torna limitado no espaço. Ocupo dois lugares na carruagem. Um casal aproxima-se e com o olhar pergunta-me se pode ocupar um dos meus lugares. Cedo gentilmente e inicio uma longa viagem de ladex. Com a asa a ocupar metade do corredor passo grande parte do tempo a movimentá-la para que se possa circular no comboio.

Espanta-me o verde marroquino. Afinal aqui também chove. E se choveu este Inverno.

Avisto o Atlas nevado no horizonte. Tudo muda para vermelho. Estou a chegar a Marraqueche. A primeira e a última estrutura que se avista nestas cidades são os minaretes. Parece que o meu tem que ser sempre maior do que o teu!

Esta estação é extraordinária! Tudo imaculado. A monarquia sente-se. Taxi?! La shukran! Oh! Egypt! Julgo que me confundiram com algum turista egípcio. Mas felizmente foi o suficiente para afastar os quezilentos taxistas. Quero apenas deambular pela cidade enquanto espero pela minha boleia.

Percorro a Avenida Mohamed VI. Procuro um ciber-cafe onde possa informar os meus de que estou bem.
Com cautela livro-me das inúmeras MBK que como insectos voam por todo o lado. Perco-me na vida destes passeios. Têm de tudo. De simples mercearias a mecânicos itinerantes qual engraxadores de sapatos alfacinhas.

Chegámos a Aguergour. Estamos no acampamento base desta expedição. A cozinha de Chez Latifa é deliciosa. Tagine kefta para o jantar partilhada por um português, um inglês radicado, uma marroquina, um gaulês e um francês. O serão promete. O chá chegou e está deveras quente para mim.

Começou! Estou em Marrocos!

sábado, 20 de março de 2010

novamente para África...

Estou prestes a voltar à estrada. Ou melhor à terra batida africana.

Depois de vencida a ansiedade de como chegar à Marraqueche tudo começa agora a ganhar consistência e cor.

Já fui e voltei ao Magrebe mais de um dúzia de vezes nos últimos dias. Preparar a viagem é sempre mais árduo do que fazê-la.

Pisei pela primeira vez Marrocos em 2001. Recordo-me do cheiro nauseabundo do Porto de Casablanca e da ostentação da Mesquita Hassan II. Avistou-se de bem longe o Minarete, aliás conforme avisado pelo Navegador da Barca.

Lembro-me também de por inocente medo ter recusado viajar de comboio até Rabat. Fiquei pela Medina que em nada oferecia mais segurança. Enfim! Mas aos vinte anos falta sempre qualquer coisa e a mim faltou agir com o coração.

Anos mais tarde voltei para resgatar a honra e percorrer alguns quilómetros de comboio e mochila às costas. Ficou Chauoen pelo azul, Fés pelo cheiro das peles de gado a tingir e Meknes
pelo quarto dos fundos com azulejo verde até ao tecto.

Regresso agora para me encontrar com a Montanha. Voarei no Atlas se Eolo permitir e aterrarei no Toubkal se audácia e perícia mostrar.

Depois de aterrar em Casablanca viajo para Marraqueche de comboio. Espero no crepúsculo vespertino saborear o vento seco do deserto suspenso naquela que será a minha companheira de viagem. Que eu nunca lhe falte e que ela nunca se recuse a abrir.

(desta vez vou munido da Loperamida orodispersível. disso não me esqueçerei!)