segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

After eight

‘After dinner, the weather being warm, we went into the garden and drank tea, under the shade of some apple trees… he told me, he was just in the same situation, as when formerly, the notion of gravitation came into his mind. It was occasion’d by the fall of an apple, as he sat in a contemplative mood. Why should that apple always descend perpendicularly to the ground, thought he to himself…’ William Stukeley

sábado, 16 de janeiro de 2010

Crónica de um Bairro Alto

Mal saio para a rua reparo num papagaio perdido cujo padrão colorido me traz à memória a manchete de um jornal lido ontem na banca da esquina. "Igreja abandona as Noivas de Santo António". Será o medo de casar aqueles que por estas travessas bairristas livremente demonstram o seu afecto?

Desço a Rua das Gáveas e viro na Travessa da Espera. Pergunto-me se não chove nesta cidade. Se tal acontecer onde se abrigam os veraneantes? Debaixo das varandas inexistentes?

Procuro fugir ao Fado e às cozinhas típicas portuguesas que apenas o são para turistas embriagados com a melancolia nostálgica da nossa cultura. Oiço pela janela de um restaurante italiano o sopro do Jazz. Cruzo-me com um Woody Allen português de óculos de massa e cigarro no canto do lábio. Sigo pela Travessa dos Fiéis de Deus onde sinto o peso de uma cultura judaico-cristã presente em quase todas as ombreiras de porta. Olho em frente e desaguo na Rua da Misericórdia. Guiado pelo Tejo pergunto ao Poeta qual o melhor local para me saciar entre lisboetas quotidianos. Sigo o seu olhar e dirijo-me para os Armazéns.

"-Passado o Carnaval acabou!" Apregoa o homem das castanhas que perfuma o ar de uma dessas esquinas.

Entre pombos que entretêm crianças na esplanada e estátuas que decoram fotografias cruzo-me com um casal chino recentemente assediado por um Relações Públicas de um restaurante de arcada. Seguimos juntos na calçada até à porta dos agora cosmopolitas Armazéns do Chiado.

Desço ao esgoto da cidade. Haverá sempre espera na toilette feminina. Recordo o preço que paguei para satisfazer a base de Maslow, protegido do vento gélido berlinense faz precisamente um ano. Emergo à restauração. Ao fundo a Universal Hamburgueria. Igual a si própria. Factor de escala perfeito para melhor compreender a projecção no Mundo do Mundo de cada cultura e povo. Cruzo o olhar com um corpulento homem, que há minha frente degusta o poder refrescante do amrit americano. Isolado na sua esfera i-pódica partilha comigo a solitária refeição, dissolvidos entre colunas, onde "Prevenir está nas suas mãos" e ao alcance de uma gota de desinfectante viral.

O creme de cenoura tem um tempero especial. Talvez por ser das poucas fugas possíveis, a uma gastronomia predominantemente carnívora, que um comensal vegetariano pode seguir.

Postal para o Tiago Salazar

Praça Luís de Camões, ao Chiado.

Tiago,

Tudo se limita à circunstância desta praça. O centro é o Imortal. Presente, sóbrio e vertical. De olhar fixo no horizonte como os que pela periferia atravessam a àgora. Eléctricos, autocarros, táxis e alguns carros privados. Alguns transeuntes. Poucos andarilhos. Todos encarrilhados. No centro só os pombos.

Abraço,
T.

16JAN10
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